Três décadas de armazenamento: do disquete à nuvem

Faz alguns dias que estou vivendo uma jornada pessoal de recuperação de arquivos antigos. Por motivos de chuvas e infiltração, tive que mover muitas caixas e acabei me deparando com relíquias do passado: dezenas de disquetes, centenas de CDs, DVDs e vários HDs danificados reunidos ao longo de 30 anos de uso do computador.

No meio da década de 90, quando finalmente tive meu próprio computador, o armazenamento de dados ainda era caro e limitado, o tamanho dos HDs era relativamente pequeno, e não havia soluções externas como gravador de CD, discos USB e nuvem (aliás nem havia USB, e drives de CD eram somente para leitura, não gravação). A única solução de armazenamento era o disquete (já falei dele aqui).

Floppy disk 2009 G1

Devido ao seu pouco espaço e baixa confiabilidade, era frequente disquetes morrerem, carregando todo o seu conteúdo. Por isso, os arquivos ficavam armazenados preferencialmente no próprio disco rígido (ou HD). Infelizmente defeitos também ocorriam nos HDs (possuem inúmeras partes móveis, como motor e agulhas de leitura). E com isso, embora fossem mais duráveis que disquetes, os HDs também morriam

Um usuário eventual deve ter se deparado com um ou dois HDs com defeito ao longo da vida, mas eu nunca fui um usuário eventual. Principalmente quando os computadores ficaram mais acessíveis, sempre lidei com mais de um computador. E quando alguns destes computadores davam problema, os discos rígidos tinham que ser substituídos, mas e os arquivos armazenados? Seriam perdidos?

Sony Playstation 2 SCPH-5001 V9 - HD IDE 80Gb (traseira) 80Gb IDE HDD (bottom side) - Seagate Barracuda 7200RPM ST380011A (19452163806)

A recuperação de dados de HDs sempre foi um serviço muito caro e inacessível para a maior parte das pessoas. Mas muito, muito caro. Porém, sempre mantive a esperança de ganhar na loteria para mandá-los para uma empresa especializada, e por isso os HDs danificados foram acumulados com o passar dos anos…

Próximo ao ano 2000, uma internet melhor demandava novas soluções de armazenamento de arquivos, e os gravadores de CD se tornaram mais populares e necessários, pois os CDs permitiam backups de 650MB em arquivos por vez (que na época era infinitamente melhor do que os 1,44MB dos disquetes).

Por ser uma mídia mais confiável (se bem cuidada, sem arranhar), se tornaram o principal meio de armazenamento de dados neste período. Todo usuário de computador tinha dezenas de CDs, armazenados em cases, pinos ou porta CDs (eu tenho centenas até hoje).

Lazos&Qriom DVD&BD

Após os anos 2000, os Pen Drives USB começaram a se popularizar. Na verdade eram tocadores e gravadores de áudio, lembro de ter usado muito para gravar aulas de professores, porque detestava escrever no caderno… Estes dispositivos, chamados MP3 players, também podiam ser usados para guardar e transferir arquivos entre computadores.

Fizeram tanto sucesso que evoluíram para MP4, MP5, MP6 e por aí vai, sempre adicionando nos recursos como reprodução de vídeo, câmera, rádio e etc.). Seu espaço era limitado, na faixa de 64MB à 256MB, e por isso não era uma solução viável de armazenamento a longo prazo.

An mp3-player (ubt 147)

Uma solução mais robusta para backups surgiu em seguida: os gravadores de DVD. Sendo a evolução natural dos CDs, os DVDs permitiam armazenar até 4,7GB de dados (no modelo padrão). E o melhor: eram compatíveis com os porta CDs já existentes, aproveitando a infraestrutura existente rs. Então, mais um monte de discos foram gravados e acumulados…

DVD WRITER

Os HDs também evoluíram neste período, passando da antiga tecnologia IDE (aquela dos cabos tipo fita) para a moderna SATA (do cabinho vermelho), melhorando a velocidade e a capacidade de armazenamento de Gigabytes para Terabytes pouco antes de 2010. Infelizmente sua durabilidade continuou baixa, e mais um tanto de HDs foram danificados (e guardados) desde então.

Com uma internet cada vez mais rápida, os sites de compartilhamento de arquivos como MegaUpload, RapidShare e similares tomaram o controle da internet. Esta foi a década de ouro da história da internet, pois era possível encontrar qualquer coisa nestes sites ou nos torrents, sendo então o período mais próspero da história da internet para se adquirir grandes quantidades de dados facilmente.

Para armazenar todos estes dados, os Blu-rays foram necessários, discos com incríveis 25GB de armazenamento (no tamanho padrão). Seu preço nunca chegou a ser muito acessível, por isso nem todos tiveram a chance de fazer uso da tecnologia, mas eu não abro mão do Blu-ray até hoje!

IFA 2005 Panasonic Blu-ray Discs Single and Dual Layer BD-RE (Cartridge) (by HDTVTotalDOTcom)

Com os custos de armazenamento em servidores caindo, grandes empresas como Apple, Google e Microsoft lançaram seus próprios sistemas de armazenamento na nuvem, atrelados aos sistemas Mac, Android e Windows. Neste ponto, a maior parte dos usuários eventuais passou a responsabilidade do armazenamento de seus dados e backups a estes serviços. O quanto isto é inseguro, ainda é muito debatido.

Hoje, no ambiente doméstico, o armazenamento nos computadores é feito em SSDs e placas NVMe, que nada mais são do que aglomerados de chips de memória similares aos dos pen drives. Por não terem partes móveis, são menos susceptíveis à defeitos físicos, mas mesmo assim estão sujeitos à defeitos eletrônicos, decorrentes do desgaste de seus componentes.

MSATA SATA M.2 NVMeSSD

Em todo este tempo, nunca houve um método totalmente seguro de manter os dados armazenados por longos períodos. A melhor estratégia sempre foi usar mais de um sistema externo (gravador de disco, HD USB e nuvem), pois assim os arquivos ficam protegidos de vírus, invasões pela rede e panes.

Mesmo que computadores recentes já não possuam drives, existem vários gravadores USB à disposição no mercado para isto. Os HDs externos são confiáveis mas não tão baratos, porém existem adaptadores que permitem transformar um HD antigo de notebook ou desktop em um HD USB.

Nem sempre eu tive todo este cuidado com meus arquivos. Infelizmente só aprendi com o sofrimento da perda de muitos HDs… Ainda hoje tenho muitos dados negligenciados aguardando a chance de ver a luz do monitor novamente. Isto me tornou uma espécie de arqueólogo da informática, sempre em busca peças velhas, pois estas podem abrir a possibilidade de recuperação de um HD danificado.

Moral da história: HDs com defeito até podem ser recuperados, mas sempre tenha backup de tudo!