O cativante primórdio da internet brasileira

Considerando que foi a nostalgia da internet de antigamente que me fez começar este projeto, vou me dar ao direito de pular (temporariamente) várias historias de infância para chegar à adolescência, no meio da década de 90, quando eu já tinha computador, mas ele ainda não era conectado em lugar nenhum, pois não existia internet no Brasil.

Nos EUA, a internet já funcionava faz tempo, inclusive com um formato interessante chamado BBS, que era uma espécie de internet fechada para assinantes de um determinado servidor, ótima para reunir conteúdo e interessados em assuntos específicos. Mas aqui no Brasil, não tinha nada disponível ao público geral.

Até então, as trocas de arquivos e programas entre os poucos que possuíam computadores em casa eram feitas fisicamente, por meio de disquetes e CDs. Mas isto mudou a partir de 1995, quando finalmente começaram a brotar os primeiros provedores de internet como Embratel, iG, UOL e o gringo AOL (quero falar só desse depois).

A tecnologia dessa tal de internet discada parecia fantástica! O computador usaria uma placa interna (ou dispositivo externo) chamado fax modem para converter dados em sinais de áudio modulados, que seriam transmitidos pela linha de telefone comum (fixo, não existia celular).

PCTEL Platinum Series 56K Fax Modem PCI Card 03

Era uma internet simples, primeiro porque não existiam tantos serviços e utilidades quanto hoje, e segundo porque ela era extremamente lenta: os melhores modens desta época funcionavam a 56KB/s, velocidade ridícula comparada a de uma boa operadora de internet nos dias de hoje.

E mesmo sendo tudo tão lento, a impressão era de que o mundo todo estava ao nosso alcance… Ah, e que saudade do tom de discagem (barulho que o modem fazia ao se conectar com o provedor), esse ruido foi a alegria de muitas infâncias:

As telefônicas incentivavam, através de tarifas mais baratas, o uso da internet depois da meia noite, porque as redes de telefonia não tinham uso comercial neste horário e ficavam ociosas. Por conta disso, quase todos os adolescentes da década de 90 (inclusive eu) passaram muitas madrugadas em claro, já que esse era o único horário da internet utilizável para o orçamento das famílias comuns.

Ainda não existiam buscadores como o Google e o Bing, mas sim diretórios (listas de sites cadastradas e classificadas manualmente), sendo o mais famoso aqui no Brasil o Cadê?. O conteúdo em português era limitado, mas no exterior, diretórios como o Altavista e Yahoo! forneciam centenas, talvez milhares de links de sites para se conhecer.

Algum tempo depois, passou a ser bem comum qualquer pessoa ter um site pessoal, pois: já havia servidores de hospedagem gratuitos, a estrutura dos sites era simples (em HTML puro), e o conteúdo era básico: normalmente se colocava letras das músicas favoritas, MIDIs, muitas imagens e GIFs animados, alguns programas para download e era só isso.

Mas nem todo conteúdo estava contido em sites. Nesta época também era muito usado o protocolo FTP, cujos servidores permitiam disponibilizar arquivos para download organizados em listas visuais sem conteúdo de texto ou imagem, o que acelerava os downloads, uma vez que não abriam páginas com trocentas imagens animadas…

Finalmente, no fim dos anos 90, surgiu a revolução do uso da internet e transferência de arquivos: as redes peer-to-peer (P2P), através das quais as pessoas conseguiam trocar arquivos diretamente sem depender de intermediários, sites ou navegadores, dando início à era de bronze da pirataria na internet, mas isso é assunto para outro dia.

Com a evolução da internet, os sites pessoais perdendo a importância e sumiram. Eu gostaria muito que algum dos meus sites destes primórdios ainda estivesse no ar, seria bom reviver estes momentos, mas infelizmente não é possível, pois quase todos os provedores gratuitos desta época foram extintos, junto com o conteúdo armazenado.

Isto destaca uma verdade universal da computação (e talvez da vida), que é o barato frequentemente sai caro. Se eu tivesse optado por um bom provedor pago como o Hostinger desde o início, talvez meus sites antigos estivessem online até hoje para matar a saudade…

Moral da história: É possível acessar sites que já não existem mais

Mesmo que muitos provedores e domínios já não existam mais, ainda assim é possível acessar muitos destes sites através da Internet Wayback Machine. Esta ferramenta é uma iniciativa do Internet Archive e possibilita visualizar páginas que tenham sido rastreadas e acessadas pela mesma em algum momento do passado.

No topo, existe uma linha do tempo, através da qual é possível ver a evolução e as alterações do site ao longo de dias, meses e anos. A ferramenta funciona melhor em sites famosos, que recebiam muitos acessos, mas também é possível localizar muitos sites pessoais com ela, basta digitar o endereço.

Além de ver sites que já não existem mais, é possível ver informações que foram modificadas e alteradas nestes sites em determinados momentos… Preciso explicar como isto também pode ser útil para matar a saudade de um site ou desmentir alguém e ganhar uma discussão?


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2 respostas para “O cativante primórdio da internet brasileira”

  1. […] frequente, a ponto que a versão seguinte do Windows, o 95, teve seu lançamento coincidindo com o início da internet no Brasil, o que tornou os computadores ainda mais […]

  2. […] era de internet à vapor, na qual poucas coisas sociais eram feitas online, nós ainda dependíamos de formas de […]